Em 04/04/2015 - Da Redação
Sou professor. Trabalho em
escola. Vivo trabalhando em escolas há mais de vinte anos. Sempre estudei em
escolas públicas, universidades públicas. E, portanto, acredito e defendo
instituições públicas. Tive o prazer de ser professor de irmãos, mãe, esposa,
sogra e amigos...
Ao longo do tempo acabei
conhecendo bem as instituições onde passo boa parte da minha vida. E,
naturalmente, cada vez mais percebo a importância de uma boa escola na vida de
todos – dos alunos, dos pais, dos funcionários de apoio, administrativos e
professores. Como também de todos os demais membros da sociedade.
Constantemente reflito, como
pode a educação ser tão importante e tão pouco valorizada, na prática, por
grande parte da sociedade que tanto fala da importância da educação. Paradoxo.
Assim, tenho percebido que
para a escola cumprir sua missão não basta apenas ser escola. Tem que ser boa.
Ou seja, tem que promover mudanças. De atitude, de valores, de sentimentos, de
desejos, de interesses; enfim. Tem que mudar a si, aos que atende e também aos
que a ela não tem acesso.
Sou professor. Portanto,
como ser humano revelo-me falho, incompleto, em construção. Mas não satisfeito
com as condições dadas, por isto, sempre busco contribuir para a melhoria do
lugar onde vivo, como também, do local onde trabalho. O que é desafiador e
perigoso, pois, em geral, a escola é resistente às mudanças. Paradoxo.
Assim, depois de tantos anos
de trabalho, de estudo, de sentir na pele os prazeres e desprazeres da missão
de lecionar. Aprendi mais uma grande lição. A que a escola não pode apenas ser
escola. Tem que ser boa. Isto é, não pode deixar de cumprir seu papel: promover
mudanças.
A título de ilustração cito
o que vivi outro dia. Notei que meu filho brincava com o cachorro pequeno que
temos. Dizendo ao animal para virar à esquerda e à direita. O que deixou eu e
minha esposa curiosos, pois nem sabíamos que ele já tinha conhecimento de tais
noções (Que muitos adultos, depois de anos de escola, não sabem). E, ao
questioná-lo, percebemos que tinha certeza do que fazia.
Certa vez, ao saber por
minha esposa que haveria uma “Feira de Ciências” na escola onde meu filho
estuda, questionei: “-- O que uma criança de três anos vai fazer numa feira de
ciências?” E me opus a permitir que participasse. Ao que minha esposa insistiu.
E nosso filho participou. Para minha surpresa e aprendizado (E mais uma lição –
ao professor). Que se encantou ao ver que o filho, mesmo acanhado, diante de
tantos colegas e pais “babões”. Conseguiu, ao pedido da professora, entre
tantas figuras geométricas coloridas, identificar a cor e o formado solicitado
por sua mestra.
Esta semana, andando de
carro na cidade vizinha de Imperatriz. Nosso filho cantava uma canção e
conseguia identificar os sinais de trânsito corretamente e o que fazer ao
acender cada um. Tudo feito de modo tão natural e simples; e lúdico.
Outra vez, ao conversar com
ele, questionei-o sobre se tinha lanchado e o que fez com o que sobrou do
lanche, pois não o trouxe para casa. Ele não soube responder direito, mas minha
esposa explicou que a orientação é recolher ao lixo o que sobra. O que é
ambientalmente correto (E não simplesmente jogar no chão, como muito comumente
se faz - adultos e crianças – na escola e fora dela).
Então, depois de algumas experiências
inusitadas, que considero lições. Eu, professor de tantos anos. De tanta
experiência, ainda tenho inúmeras a aprender. Até mesmo com um pequeno filho do
segundo ano maternal.
Esta lição, mais uma vez, leva-me
a acreditar que a escola não pode ser apenas escola. Tem que ser boa, pois se
não for, corre o sério risco de apenas reproduzir práticas, valores,
sentimentos e interesses tão pouco aceitáveis para a sociedade que todos tanto
desejam e inúmeros recursos se investem.
Francisco Monteiro
Professor
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