12 julho 2013

'PMs estavam no sadismo', diz ferido com 4 balas de borracha no Rio

12/07/2013 15h54 - Atualizado em 12/07/2013 15h54

Cinegrafista foi atingido também por granada do pé e ainda sente dores.
'Atiraram indiscriminadamente o gás, como se fosse Parabéns pra você".

Tahiane StocheroDo G1, em São Paulo

Thiago Earp foi ferido por balas de borracha no quadril, no braço e na perna (Foto: Arquivo Pessoal)Thiago Earp foi ferido por balas de borracha no quadril,
no braço e na perna (Foto: Arquivo Pessoal)
O produtor cultural Thiago Earp, de 31 anos, ferido com pelo menos quatro balas de borracha, disparadas por policiais militares durante confronto no Palácio Guanabara, na Zona Sul do Rio, na noite desta quinta-feira (11), diz que os PMs atiraram "indiscriminadamente".
Cinegrafista, ele acompanhava a manifestação em frente à sede do Governo do estado do Rio de Janeiro para a produção de um documentário independente. Os protestos reuniram cerca de 6 mil e terminaram com confronto após uma passeata na Avenida Rio Branco, no Centro.
Earp também foi alvejado no pé direito por uma granada de efeito moral, jogada pela PM para dispersar o grupo em frente ao Palácio Guanabara. O artefato provocou cortes e ferimentos na sua perna.

Em nota ao G1, a PM respondeu que os policiais fizeram uso de munição menos letal para reagir a ataques com coquetéis molotov e morteiros. A corporação não se posicionou sobre o caso do cinegrafista (leia abaixo).
Ainda com dores e dificuldades para caminhar, Earp, que é natural de Campo Grande (MS) mas mora há 13 anos no Rio, retorna nesta sexta-feira (12) à Casa de Saúde Pinheiro Machado, localizada em frente ao Palácio.

Foi lá que ele foi atendido à noite. Vai  realizar novos exames no pé, que ainda dói, e pegar um prontuário médico.
“Estou acompanhando os protestos desde o dia 16 de junho, durante a partida entre Itália e México no Maracanã pela Copa das Confederações. Sempre teve confusão, mas o de ontem [quinta] foi o pior de todos. Tinha muito policial (em frente ao Palácio Guanabara) para meia dúzia de gente. Usaram muito gás, foi desnecessário. Atiraram indiscriminadamente, como se fosse um ‘Parabéns pra você’”, diz o cinegrafista ao G1.
Earp diz que caiu ao ser atingido por um granada e que, depois, formou-se uma “nuvem de gás extensa” que o impedia de ver algo.
Thiago Earp participava da manifestação para fazer um documentário (Foto: Arquivo Pessoal)Thiago Earp participava da manifestação para fazer um
documentário (Foto: Arquivo Pessoal)
“Jogaram muito gás, muito mesmo, e daí começaram a atirar com balas de borracha dentro da nuvem. Não vi quando fui atingido. Pareciam despreparados. Alguns PMs estavam no sadismo mesmo. Um amigo disse ter ouvido um deles gritando: ‘Corre, maconheiro, corre! Vai pra casa, filho da puta’”, relembra.

Os tiros de borracha ocorreram a uma curta distância, entre 3 e 5 metros, diz.
“Independente de ser pacífico ou não, eu sempre vou para filmar, buscar imagens melhores para o vídeo. Não tínhamos ideia que ia acontecer o que virou: uma guerra no Centro do Rio”.
Vidraça da Casa de Saúde Pinheiro Machado é atingida (Foto: Priscilla Souza/ G1)Vidraça da Casa de Saúde Pinheiro Machado foi
atingida no confronto (Foto: Priscilla Souza/ G1)
'Nuvem de gás'
Segundo Earp, o protesto em frente ao Palácio Guanabara estava pacífico. “Não havia nenhum movimento, os PMs começaram com agressão do nada. Naquele momento todo mundo gritava contra eles. Era muito gás que não tinha como fugir dali. Meu ouvido está apitando até agora”, relembra.
O produtor cultural diz ter marcas de bala de borracha no braço, nas costas e na perna esquerda, além de estilhaços da granada nas duas pernas e que não conseguiu ver os PMs que o atingiram. Com dor no pé e dificuldades para caminhar, foi socorrido por outros manifestantes até um prédio, onde ficou abrigado até conseguir pedir ajuda a um amigo.

“Uma alma caridosa de um prédio abriu o portão, na Avenida Pinheiro Machado (que estava bloqueada) e me jogaram para dentro, fiquei esperando a nuvem de gás passar e respirar”, diz. No hospital, segundo ele, o cheiro de gás era intenso e havia marcas de destruição.

Questionada pelo G1 sobre o caso, a PM não informou se investigaria. Em nota, a corporação disse apenas que “um grupo infiltrado entre os manifestantes arremessou
um coquetel molotov” em direção ao Palácio Guanabara e que “morteiros foram arremessados contra a tropa da Polícia Militar”, que reagiu com o emprego de armamento não letal. Um soldado foi ferido na cabeça por uma pedrada e 46 pessoas foram presas no confronto.

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